segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Aprendendo a aprender uma matéria que me causava terror

(Versão do documento: 07/02/2010)

Gustavo Nunes Martins
Atualmente trabalha na Alemanha em projetos de alta tecnologia. É Engenheiro Aeronáutico pelo ITA(Brasil), tendo cursado seu último ano de graduação na Universidade Técnica de Berlim (Alemanha)

Estudante da faculdade de engenharia conhecida por ser a mais estressante do Brasil (ITA), deparei–me com a situação de ter que fazer uma prova de recuperação de uma disciplina de Estruturas Aeronáuticas cujo apelido era “A Matéria do capeta”. Para as provas desta disciplina os alunos podem levar anotações de aula. Todos sempre levavam, mas a maioria ia mal, tamanha a complexidade das questões. Os três melhores alunos da sala conseguiam tirar, no máximo, 80% da nota máxima. O restante tinha notas entre 40% a 65%, nota insatisfatória, as quais era possível compensar fazendo listas de exercícios. Minha média nas provas tinha sido 35%, chegando a tirar até 10% em uma prova! Como eu não conseguia fazer as listas, eu me percebia como sendo o pior aluno da sala.

A preparação para a prova de recuperação deveria ser feita durante meus três meses de férias, mas, por estar fazendo estágio intensivo, só tive duas semanas para me preparar. Os melhores alunos consideravam que fazer os exercícios era um pré-requisito para tirar alguma nota na matéria. Até mesmo aqueles que faziam todos os exercícios tinham dificuldades e obtinham, no máximo, a nota “suficiente”. Se quem fazia todos os exercícios ia mal, imaginem eu, que não estava com motivação nem tinha tempo para fazer nenhum! Pedi ajuda aos melhores alunos: eles não podiam me ajudar, pois já haviam esquecido a matéria. Não havia ninguém que pudesse me ajudar. Entrei em desespero total!

Para piorar, eu só seria “perdoado” pela minha faculdade caso tirasse 85% da nota na prova de recuperação. Caso contrário eu estaria preparando o caminho para ser desligado da faculdade na qual depositei minhas esperanças de uma carreira promissora! Se eu tirasse menos de 75% da nota teria que repetir a matéria no próximo ano. Se tirasse menos de 65%, seria obrigado a esperar o próximo ano para repetir todo o semestre! Esforcei-me para entender a matéria e fazer alguns exercícios, mas julguei a missão impossível!

Assim, pensei: - Pronto. Acabou-se a minha vida! Depois de passar por um terror psicológico, lembrei-me de que no Banco no qual estagiava eu fazia várias análises complexas e que, no início, ninguém entendia nada. Então, tomei a iniciativa de mostrar as mesmas informações da maneira mais simples possível para que todos pudessem entendê-las com o mínimo de esforço. A experiência me ensinou que qualquer gráfico que precisasse de um esforço mental para sua interpretação criava uma barreira imediata, pois as pessoas precisavam reservar o seu esforço mental para atividades que agregassem mais valor ao seu trabalho. Compreendi que era meu papel fornecer as informações de maneira tão organizada e clara que o entendimento poderia ser alcançado num relance.

A lembrança da experiência no Banco induziu-me a ter uma intuição, um clique: - “Uma tabela bem feita vale mais que um cérebro!” Assim, pesquisei todas as minhas provas antigas e fiz um diagrama de todos os meus erros mais comuns, tentando imaginar por que eles aconteciam. Depois de algumas horas, finalmente descobri como fazer um único diagrama que me permitiria entender todas as 400 paginas do livro de estruturas em um único olhar. Com esta tabela pude, ainda, descobrir que o livro era incompleto em alguns temas. A “Matéria do capeta” se tornou a matéria mais banal para mim.

Fiquei tão entusiasmado com o diagrama que, ao invés de fazer os exercícios imediatamente, resolvi fazer algumas simulações mentais para avaliar o grau de dificuldade dos mesmos. Verifiquei, surpreso, que o diagrama tinha todas as fórmulas possíveis, discriminando muito facilmente em qual situação cada uma delas deveria ser usada. Então, tive a confiança necessária para decidir que as simulações realizadas mentalmente tinham sido suficientes, e que não precisaria fazer nenhum exercício.

Dito e feito. Na hora da prova, inicialmente fiquei gelado, pois ela veio mais complexa do que o habitual. Entretanto, consultei meu diagrama, claro como cristal, e vi imediatamente como deveria proceder para solucionar as questões propostas. Superando a minha baixa auto-estima inicial, fui o único que tirou os tais 85% da nota máxima.

Minha conclusão: - "Uma tabela bem feita vale mais que um cérebro."

5 comentários:

Maurilo Santos disse...

ótimo post!

Morais, Sander disse...

Excelente texto, com certeza vai me ajudar muito!

Professor João Martins da Silva disse...

Faça bom proveito, Sander!

Professor João Martins da Silva disse...

Obrigado pelo retorno, Maurilo!

Hachi disse...

O desafio é conseguir pensar de forma diagramática.