sábado, 27 de novembro de 2010

Dialogar para conhecer e conviver

Newton e Einstein, entre outros cientistas, demonstraram a necessidade de diálogo entre o pensamento e o objeto inanimado para se apreenderem os segredos da natureza. Nesse diálogo o objeto da pesquisa mantém-se mudo, só revelando os seus segredos mais profundos aos que têm paciência, persistência e sutileza na abordagem. Takeuchi e Nonaka (A Criação de Conhecimento na Empresa) ressaltaram a necessidade do diálogo, usando metáforas e analogias, para se criarem produtos inovadores nas empresas. O conhecimento não nasce somente do diálogo isolado entre um homem e o seu objeto de pesquisa mas, também, a partir do diálogo dos homens entre si. Sócrates mostrou a importância do diálogo como forma de trazer à luz o conhecimento, o que foi chamado de maiêutica. Paulo Freire destacou a necessidade de uma educação dialógica.

Algumas pessoas aprenderam a dialogar consigo mesmas e, assim, se autoconhecerem. Outras dedicaram-se, como cientistas, a compreender o segredo da boa comunicação no dia-a-dia. Entre elas pode-se citar Carl Rogers que, nas décadas de 1960/70, procurou promover o encontro humano eficaz. Ele concluiu que a comunicação entre as pessoas é deficiente porque, geralmente, elas respondem antes de preparar o terreno. A Enciclopaedia Britannica produziu um vídeo chamado Saber Escutar, que ilustra as regras da comunicação eficiente a partir das descobertas de Rogers. O vídeo começa explicando que, “entre todas as ferramentas da administração, saber escutar é a mais simples e a mais fácil de ser mal compreendida.”

Pode-se representar o método de Rogers, com alguma adaptação, pelo acrônimo ocer – ouvir, compreender, enriquecer e responder. Ouvir não é tão fácil quanto parece, pois geralmente preferirmos falar ou, às vezes, ficar calados. O assunto tem merecido a atenção de grandes universidades. O professor Jorge Tadeu, da UFMG, afirmou ter feito uma disciplina durante o seu doutoramento na França cuja única atividade que se impunha ao aluno era ‘escutar’. Quando alguém nos fala, quase sempre não compreendemos o que é dito, por isso precisamos nos esforçar, perguntando e prestando atenção não só ao que se fala, mas sobretudo às mensagens subliminares, reveladas pelos sinais do corpo. Recentemente li uma pesquisa que dizia que cerca de 40% dos empregados norte-americanos não compreendem o que os seus chefes dizem. Apesar disso eles são obrigados a agir. Imaginem os resultados!

Após compreender, e antes de responder, é necessário enriquecer a conversa, concordando com o outro naquilo que julgamos que ele esteja certo. Isso faz com que ele perceba que o respeitamos, o que prepara o caminho para que passe a desejar ouvir-nos, ainda que não concordemos com ele. Fechando-se o ciclo ocer - ouvir, compreender, enriquecer e responder - aumentam-se as chances de se compreenderem as necessidades do cliente, do cidadão, do amigo, do parente e, até mesmo, do inimigo. Se o interlocutor não for determinado a dominar, como Hitler, até mesmo guerras poderiam ser evitadas. Novos produtos poderiam ser desenvolvidos sob medida, e o convívio poderia ser muito mais agradável. É preciso, portanto, dialogar para conhecer e para conviver.

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